Têm surgido diversas vozes, particularmente nas redes sociais, condenando a exposição mediática do atentado em Paris por oposição ao menosprezo demonstrado pelo ocorrido em Beirute. Recorde-se que meras 24 horas antes dos acontecimentos na capital francesa, dois bombistas suicidas causaram a morte a pelo menos 43 pessoas, ferindo ainda mais de 200 no processo, naquele que foi o terceiro atentado terrorista em território libanês apenas em Novembro.
O erro que se comete é o de se julgar que o tempo de antena dado, por estes dias, a Paris, significa que as vítimas desta atrocidade são mais importantes do que as que perderam as suas vidas no bairro de Bourj el-Barajneh. É certo que uma vida humana tem o mesmo valor em Paris ou em Beirute - não é isso que está em causa. É o contexto em que os atentados de Paris ocorreram e suas consequências quem fomenta uma maior exposição mediática.
Não podemos ignorar o simbolismo de Paris enquanto símbolo cultural e representação do nosso modo de vida, nem a França como referência da nossa democracia. Naturalmente, um acontecimento desta magnitude sobre a capital de uma das mais influentes nações do mundo ocidental terá sempre um impacto infinitamente superior ao de um atentado noutras zonas do globo, onde o mesmo não terá influência directa no nosso dia-a-dia. Os ataques sobre Paris não visaram apenas a França e os franceses; foi um ataque a um modo de vida, ao código de valores e à cultura ocidentais. A todos nós que sempre vivemos à luz desses ideais.
Após estes ataques, demorará tempo até que os europeus se sintam totalmente seguros no seu dia-a-dia. Quantos de nós não sentirão receio ao assistir ao vivo a um jogo de futebol ou ao dirigir-se a um concerto?, ao apanhar um autocarro ou a viajar no metro? Aquilo que sempre demos por garantido - como a liberdade de se assistir a actividades culturais - surge, subitamente, como algo potencialmente perigoso, tal como após 2001 viajar de avião nunca mais foi o mesmo. Foi um ataque ao nosso estilo de vida.
Os meios de comunicação social reagiram em conformidade com os acontecimentos. O que aconteceu em Paris foi um choque: pelo local, pela brutalidade dos ataques, pelo significado e suas consequências. Nenhum atentado terrorista noutro continente poderá causar tamanho celeuma no mundo ocidental pois não alcançará o impacto obtido com a tragédia de 13 de Novembro. E é disso que se fazem as notícias: do impacto que as mesmas terão sobre os indivíduos.
PS: Note-se que em momento algum estou a desvalorizar a condição humana de quem perdeu a vida em atentados terroristas fora da Europa. Isso ficará para uma outra discussão.
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